Diácono
Francisco Artur Pinheiro Alves
Na
década de 1960, foi quando eu tomei conhecimento das coisas da vida. Também foi
o período que mais tempo morei na Carqueija. Minhas lembranças são muitas as
que me marcara, foram figuras que de algum modo, se distinguiam das demais
pessoas. Dentre elas a Virgínia Prudêncio.
Estou
tratando-a como Prudêncio, por causa de sua mãe, dona Maria Prudêncio, que
nunca vi de perto, mas sabia que estava na casinha dela, que era cega, e vivia
deitada. A Virgínia não deixava a gente entrar para vê-la.
Virgínia
tinha uma deficiência na perna. Sua perna era curta e um pouco torta. Andava de
muleta. Uma muleta bem forrada de pano, bem acolchoada, para ser mais
confortável.
Sua
casa era bem pequena. Eu menino, baixava a cabeça para entrar. A altura da
porta para ela não era problema, pois era baixinha, menor que eu e, em casa,
andava se agachando, sem usar sua muleta. A casinha parecia casa de boneca, de
tão pequena e tão baixa.
Era
ali, entre o terreno do Pedro Jorge e do João César, na época na área do Tio
Bado. A casa dela era próxima a mais duas casas, a do Sr. Caraca (o nome dele
devia ser Caracas), na beira da estrada e outra que moraram várias pessoas.
Todas ligadas ao Tio Bado, que por sua vez, morava abaixo da casa do Vovô, onde
é hoje a casa nova do Pedro Jorge, construída pelo Jorge e hoje do Jorge. Mais
na frente, na Cabeça do alto, tinha a bodega do Sassá, subindo, por trás da
bodega tinha a casa do Zé Bandolim e abaixo depois do Açude das Peixotas tinha
a nossa casa do lado esquerdo da estrada , no sentido da Diocese e ainda havia
uma casa de morador no alto logo acima de nossa casa, do lado direito, quase na
estrema do Zé Daniel. Portanto, entre a casa do Vovô e a extrema do Zé Daniel,
era bem povoado Só a casa do papai e a do Sassá, eram de tijolo, as demais eram
de Taipa.
Todos
os dias a Virgínia ia até a Carqueija. Ia pedir suas esmolas. Naquele tempo não
tinha nem Bolsa Família, nem aposentadoria de idosos. Ela vivia da caridade
alheia. Diziam que ela tinha um namorado. Um namoro proibido, mas isso não
posso afirmar. Certamente teve e era seu direito, amar.
As
minhas lembranças dela são estas, em sua casinha, fazendo café em um fogão à
lenha no chão. Outra lembrança marcante era vê-la passando na estrada indo a
Carqueija. Às vezes passava lá em casa também e a mamãe dava a sua colaboração.
Fica
pois o registro desta personagem que marcou a nossa infância na Carqueija dos
Alves.
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