quarta-feira, 15 de março de 2023

VIRGÍNIA PRUDÊNCIO, uma mulher batalhadora

 


Diácono Francisco Artur Pinheiro Alves

Na década de 1960, foi quando eu tomei conhecimento das coisas da vida. Também foi o período que mais tempo morei na Carqueija. Minhas lembranças são muitas as que me marcara, foram figuras que de algum modo, se distinguiam das demais pessoas. Dentre elas a Virgínia Prudêncio.

Estou tratando-a como Prudêncio, por causa de sua mãe, dona Maria Prudêncio, que nunca vi de perto, mas sabia que estava na casinha dela, que era cega, e vivia deitada. A Virgínia não deixava a gente entrar para vê-la.

Virgínia tinha uma deficiência na perna. Sua perna era curta e um pouco torta. Andava de muleta. Uma muleta bem forrada de pano, bem acolchoada, para ser mais confortável.

Sua casa era bem pequena. Eu menino, baixava a cabeça para entrar. A altura da porta para ela não era problema, pois era baixinha, menor que eu e, em casa, andava se agachando, sem usar sua muleta. A casinha parecia casa de boneca, de tão pequena e tão baixa.

Era ali, entre o terreno do Pedro Jorge e do João César, na época na área do Tio Bado. A casa dela era próxima a mais duas casas, a do Sr. Caraca (o nome dele devia ser Caracas), na beira da estrada e outra que moraram várias pessoas. Todas ligadas ao Tio Bado, que por sua vez, morava abaixo da casa do Vovô, onde é hoje a casa nova do Pedro Jorge, construída pelo Jorge e hoje do Jorge. Mais na frente, na Cabeça do alto, tinha a bodega do Sassá, subindo, por trás da bodega tinha a casa do Zé Bandolim e abaixo depois do Açude das Peixotas tinha a nossa casa do lado esquerdo da estrada , no sentido da Diocese e ainda havia uma casa de morador no alto logo acima de nossa casa, do lado direito, quase na estrema do Zé Daniel. Portanto, entre a casa do Vovô e a extrema do Zé Daniel, era bem povoado Só a casa do papai e a do Sassá, eram de tijolo, as demais eram de Taipa.

Todos os dias a Virgínia ia até a Carqueija. Ia pedir suas esmolas. Naquele tempo não tinha nem Bolsa Família, nem aposentadoria de idosos. Ela vivia da caridade alheia. Diziam que ela tinha um namorado. Um namoro proibido, mas isso não posso afirmar. Certamente teve e era seu direito, amar.

As minhas lembranças dela são estas, em sua casinha, fazendo café em um fogão à lenha no chão. Outra lembrança marcante era vê-la passando na estrada indo a Carqueija. Às vezes passava lá em casa também e a mamãe dava a sua colaboração.

Fica pois o registro desta personagem que marcou a nossa infância na Carqueija dos Alves.

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