sábado, 18 de março de 2023

CAPELA DE TAIPA DE TODOS OS SANTOS NA CARQUEIJA DOS ALVES - CAPISTRANO-CE

Diácono Francisco Artur Pinheiro Alves

 

A CAPELA DE TAIPA DE TODOS OS SANTOS, está situada no entorno do ECOMUSEU RURAL RAIMUNDO ALVES DA SILVA e da BIBLIOTECA PROFA. LOURDENISE PINHEIRO ALVES, na localidade de Carqueija dos Alves, no município de Capistrano-CE. Com a construção da CAPELA, será possível: celebrar a festa religiosa de TODOS OS SANTOS em Novembro, a de Santa Luzia em dezembro  a dos SANTOS REIS em janeiro, além de outras festas de santo durante o ano.

 Outro aspecto interessante neste movimento, é que enquanto CAPELA, a mesma terá um caráter ecumênico, uma vez recebemos pessoas de qualquer credo religiosos que nos visite e deseje participar de nossas celebrações. Por outro lado, pretendemos também, realizar, anualmente um seminário para debater do Ecumenismo ao diálogo INTERRELIGIOSOS, fundamental nos dias atuais, marcados pela intolerância religiosa.

A construção da CAPELA está sendo de forma lenta, pois apenas um ou dois operários tem nos ajudado nesta tarefa, pelo menos uma  vez ao mês, quando fazemos missão na comunidade. Quando estiver toda estruturada pretendemos chamar a comunidade para, assim, realizarmos   mutirões, sobretudo na etapa de colocação do barro, posto que as paredes são muito extensas e pega muito barro.

A capela está sendo construída basicamente com MATERIAIS RECICLÁVEIS: Madeira, telhas, portas, janelas, etc. Tudo recolhido de espaço público, mas também doados por pessoas que estão fazendo pequenas reformas, até aqui na cidade de Fortaleza, e transportado por mim, para Capistrano. Isso é possível, pois é comum se ver este tipo de material nas ruas, nas calçadas, de forma indevida, até. Deste modo, além de estarmos trazendo de volta uma modalidade de ARQUITETURA tradicional, como é o caso da TAIPA, estamos contribuindo com o meio ambiente e com a EDUCAÇÃO AMBIENTAL de nossa juventude e comunidade.

Usamos também madeiras da flora local, como o pau branco, mas usamos de forma sustentável, pois primeiro fizemos um plantio no entorno, a cerca de 20 anos. Agora estamos com este projeto, o que possibilita colhermos os frutos, com o manejo responsável. Retiramos uma tora de pau branco, mas deixamos 2 ou 3 fios na touceira, garantindo a continuidade da espécie. O pau branco é utilizado como caibro, ripa e linha.

Podemos dizer que este projeto tem um cunho religioso, ecumênico, cultural e ambiental, pelas características já descritas. Estas são as premissas básicas deste projeto que teve início em 2016, e que em 2020, esteve parado devido a pandemia, mas estamos retornando paulatinamente, desde o início do ano.

Desde já convidamos a todas as pessoas de boa vontade para contribuir com doações, em MATERIAL USADO: LINHAS, CAIBROS, BARROTES, TELHAS, PORTAS E JANELAS, (nos indicando onde recolhê-los). Aceitamos, também, ajuda em espécie, EM DINHEIRO, haja vista que o temos despesas com COMBUSTÍVEL, cimento, pregos, mão de obra especializada, alimentação dos trabalhadores, dentre outros.

Já iniciamos as celebrações mensais, uma por mês, em honra ao  santo do dia, como afirmamos. Nelas ás vezes fazemos o sorteio de uma CESTA BÁSICA, uma rifa, um movimento qualquer, para angariarmos fundos para o projeto.

A Capela tem 7m de frente por 14 de cumprimento. Só tem barro nas paredes da frente e dos fundos, até o meio. Ano passado realizamos o primeiro Batizado de duas crianças e este ano realizamos um casamento.

Para nos ajudar, inclusive com sugestões, colocamos a disposição nosso ZAP:  85 88530277  e nosso e-mail:  artur.calumbi@gmail.com

AÇUDE DAS PEIXOTAS E CACIMBÃO SÃO FRANCISCO: dois importantes reservatórios hídricos da Carqueija dos Alves e suas histórias.

 Diácono Francisco Artur Pinheiro Alves

Nesta crônica eu abordo a questão da água na Carqueija dos Alves, tendo como base o período da minha vida, que vivenciei esta problemática. É um pouco o resgate da memória do trabalho informal, mas nem por isso menos importante, a memória das e dos botadores de água. Carregar água, como se dizia, era uma tarefa muito cansativa, mas tinha seus momentos lúdicos. Na beira do açude ou do cacimbão, se conversava, contava-se histórias, batia-se um papo, meio rápido, por ser só momento de chegada, carregamento dos utensílio e saída, mas era sim um momento de alegria, de confraternização, por isso classifiquei como momento lúdico.

             Dentro do propósito deste livro, que e resgatar a história e a memória de nossa comunidade trago estes dois reservatórios hídricos o Açude das Peixotas e o Cacimbão de São Francisco,  hoje desativados, para que renovemos a sua memória.

 

1.    1. O Açude das Peixotas

O Açude das Peixotas fica situado às margens da estrada que liga a Carqueija São Mateus à Carqueija dos Alves, no lado esquerdo da via, no sentido daquela para esta.

No tempo que não havia poço, nem água encanada na região, ainda não há na Carqueija dos Alves, mas há poços. Naquele tempo se buscava água na cabeça e no lombo de jumentos.

Então, até a década de 1990, o açude das Peixotas era a Caixa d’água da região. O último a secar e o da água de melhor qualidade. Isso por que tem na sua vazante uma belíssima serra coberta de mata do semiárido, que, suponho, garante a qualidade da sua água.

Segundo o meu irmão Pedro Jorge, o açude teria sido construído ou concluído em 1875, período de seguidas secas no Ceará. Não se tem documento sobre isso, mas com certeza teria sido ainda no Século XIX.

Sendo ali uma propriedade da família Peixoto, recebeu o nome da família. Está escrito no singular, por que flexiona com o nome da   líder da família, a matriarca, dona Maria Peixoto.

Este açude, hoje associado e com sua parede arrombada (a prefeitura nunca ligou em consertá-lo), abasteceu, muitas vezes a Carqueija dos Alves e a Carqueija São Mateus, segurando o fornecimento de água até a chegada do inverno.

Nós tempos de seca, ele secava e só recebia carga no inverno seguinte. Quando já estava só no porão, papai autorizava pescar. Vinha muita gente, os pescadores e os curiosos. Pegava-se muita traíra, sovelas e carás. Muitas vezes, também muçu ou muçum. Estes, mais espertos, fincavam-se na lama.Depois do açude seco a gente cavava e encontrava muçus na lama e, gordos.

Outro destaque que quero registrar falando deste maravilhosos açudinho, é a participação de outro aliado do homem do nordeste brasileiro, até a popularização das motocicletas e dos transportes em geral, do jumentos. A maioria do transporte de água era no lombo de jumentos que levava 4 latas ou 4 canecas d’água, o que correspondia a aproximadamente, 89 litros por caminhada. Eu mesmo carreguei muita água de jumento.

Por último quero registrar outro fato importante. Primeiro na margem esquerda do açude minha mãe sempre plantava um canteiro de coentro e cebola, dava o verão inteiro. Nas vazantes do açude, muitas vezes se plantava feijão ou batata. Houve um ano que o papai plantou tomate e eu aguava todas as tardes. A medida que o açude ia secando, ia-se plantando e tinha-se feijão verde para o consumo de pelo menos uma vez por semana, ali pelos.meaes.de novembro e dezembro, coisa rara na região. Quando não acontecia de um jumento entrar no roçado e comer as verdes folhas e ramas da plantação, o que não era raro, dada a fragilidade das cercas.

Viva o Açude das Peixotas, um dos ícones da Carqueija dos Alves.

 

Escrito ao amanhecer do dia 8 de março de 2023, na Carqueija dos Alves

 

2.    2. O Cacimbão de São Francisco.

 

Na extrema do terreno do vovô com o da Diocese, hoje do Zé Daniel e familiares, tem um cacimbão, que hoje está com anéis, mas nem sempre foi assim.

Este cacimbão tem uma relação muito íntima com as famílias da Carqueija, tanto da Carqueija dos Alves, como a Carqueija Diocese e a Carqueija São Mateus. Isso porque socorreu as famílias locais nos períodos de estiagem. E foram muitos.

Segundo apuramos este cacimbão teria sido marcado, indicado por um padre. Uns dizem que foi o Pe. Cícero São Cícero de Juazeiro outros não chegam a afirmar que padre foi. Como o proprietário do local era uma pessoa muito católica, o Sr. Pierre Aon, de quem já falamos em outros trabalhos, é razoável acreditar que tenha sido realmente a indicação de um padre pois muitos deles tinham conhecimento de hidrologia e geologia geografia, o que certamente influenciou nesta indicação. Mas, seja como for o importante é registrar a importância do cacimbão de São Francisco para toda essa gente.

Segundo o meu irmão Sassá, que botou muita água de lá em 1958, ano de uma grande seca, a pessoa que cuidava do Cacimbão, Sr. Antônio Terto, que morava bem pertinho do mesmo, cuidava com todo carinho do Cacimbão. Tinha um flandre e uma vassoura de relógio (mato que se faz vassoura de terreiro) e todas as tardes ele limpava as fezes dos jumentos que as pessoas traziam para levar água.

O Cacimbão era aberto, tinha uma escadaria que a gente descia até embaixo, para colher a água. Ainda segundo segundo Sassá, o local da água era uma área de uns três metros, dentro da pedra. Tinha umas duas veias d'água, que jorravam água até o nível do lençol freático. Quando tinha muita gente tirando água, nos períodos de seca, faltava água, por alguns minutos,  as pessoas esperavam que acumulasse um volume suficiente para se encher uma cuia e encher os recipientes: latas de querosene, latas de banha, cabaças canecas de madeira, potes pequenos e outros utensílios par colheita da água.

Anos atrás foi feita uma reforma no Cacimbão, foram colocados anéis e fechado a parte das escadarias do seu entorno. Mas até hoje continua com muita água, o que mostra que quem marcou o local daquele Cacimbão, tinha muita experiência neste ofício.

Viva o Cacimbão de São Francisco, que beneficiou tantas famílias e animais, nos momentos mais difíceis de suas vidas, nos períodos de seca.

quarta-feira, 15 de março de 2023

VIRGÍNIA PRUDÊNCIO, uma mulher batalhadora

 


Diácono Francisco Artur Pinheiro Alves

Na década de 1960, foi quando eu tomei conhecimento das coisas da vida. Também foi o período que mais tempo morei na Carqueija. Minhas lembranças são muitas as que me marcara, foram figuras que de algum modo, se distinguiam das demais pessoas. Dentre elas a Virgínia Prudêncio.

Estou tratando-a como Prudêncio, por causa de sua mãe, dona Maria Prudêncio, que nunca vi de perto, mas sabia que estava na casinha dela, que era cega, e vivia deitada. A Virgínia não deixava a gente entrar para vê-la.

Virgínia tinha uma deficiência na perna. Sua perna era curta e um pouco torta. Andava de muleta. Uma muleta bem forrada de pano, bem acolchoada, para ser mais confortável.

Sua casa era bem pequena. Eu menino, baixava a cabeça para entrar. A altura da porta para ela não era problema, pois era baixinha, menor que eu e, em casa, andava se agachando, sem usar sua muleta. A casinha parecia casa de boneca, de tão pequena e tão baixa.

Era ali, entre o terreno do Pedro Jorge e do João César, na época na área do Tio Bado. A casa dela era próxima a mais duas casas, a do Sr. Caraca (o nome dele devia ser Caracas), na beira da estrada e outra que moraram várias pessoas. Todas ligadas ao Tio Bado, que por sua vez, morava abaixo da casa do Vovô, onde é hoje a casa nova do Pedro Jorge, construída pelo Jorge e hoje do Jorge. Mais na frente, na Cabeça do alto, tinha a bodega do Sassá, subindo, por trás da bodega tinha a casa do Zé Bandolim e abaixo depois do Açude das Peixotas tinha a nossa casa do lado esquerdo da estrada , no sentido da Diocese e ainda havia uma casa de morador no alto logo acima de nossa casa, do lado direito, quase na estrema do Zé Daniel. Portanto, entre a casa do Vovô e a extrema do Zé Daniel, era bem povoado Só a casa do papai e a do Sassá, eram de tijolo, as demais eram de Taipa.

Todos os dias a Virgínia ia até a Carqueija. Ia pedir suas esmolas. Naquele tempo não tinha nem Bolsa Família, nem aposentadoria de idosos. Ela vivia da caridade alheia. Diziam que ela tinha um namorado. Um namoro proibido, mas isso não posso afirmar. Certamente teve e era seu direito, amar.

As minhas lembranças dela são estas, em sua casinha, fazendo café em um fogão à lenha no chão. Outra lembrança marcante era vê-la passando na estrada indo a Carqueija. Às vezes passava lá em casa também e a mamãe dava a sua colaboração.

Fica pois o registro desta personagem que marcou a nossa infância na Carqueija dos Alves.

LEMBRANÇAS DO PEDRO CÂNDIDO

 

Diácono Francisco Artur Pinheiro Alves

Pedro Cândido é outro personagem da Carqueija dos Alves, que me interessa registrar, embora tenha pouquíssimas informações sobre ele.

Era filho de dona Maria Cândida, comadre da mamãe. Além dele eu lembro outros filhos dela: dona Laura, Manoel Cândido e Antônio Cândido.

Dona Laura também era comadre da mamãe, lembro muito dela quando morava numa casa próxima à Casa de Farinha do tio Neném, acima do açude dele.

Antônio Cândido era o filho mais novo. Muito inteligente. Aprendeu a ler na escola da mamãe e segunda ela, tinha uma boa caligrafia, requisito essencial para alfabetizados daquela época. Antônio era, como todos ali, agricultor, mas tinha um diferencial dentre os demais da comunidade, era relojoeiro. Era muito amigo do meu irmão Nonato.

O Manoel Cândido, ainda é vivo, tem 90 anos, mora na Carqueija dos Alves, próximo à casa do Fernando do tio Neném, bem na beira da estrada. Tem muitos filhos e netos.

Agora vou falar do Pedro Cândido. Ele era o mais velho dos irmãos. Tinha deficiência auditiva, não sei se a vida toda, mas o conheci quase moco.

Casou-se com a Tereza, que a gente chamava de Tereza Lopes. Ela tinha o cabelo preto, liso, cuidava bem dele lavando com raspa de juá, para vender, quando crescia, à dona Maria Alta, mãe do Prazilde, em Capistrano.

Voltando ao Pedro Cândido, ele foi morador do papai. Morou numa casa que já descrevi em outro texto, que ficava no alto, acima da nossa casa, entre o açude e o terreno do Zé Daniel.

Ele tinha uma voz grossa, mas como tivesse com um bombom na boca. Eu ainda hoje o imito. Era uma pessoa santa. Vivia do trabalho e alheio aos propósitos do mundo. Seu único pecado, era fumar Pé Duro. Se isso for pecado. Talvez fosse melhor dizer, sua única distração era fumar Pé Duro. E é sobre o seu Pé Duro que vou contar uma história dele.

Certa vez ele estava trabalhando próximo de nossa casa e eu estava no roçado com ele. Papai o colocava para trabalhar perto de casa, no roçadinho do entorno da casa. Ele não ia para o adjunto de trabalhadores, na serra, como os demais, geralmente mais novos.

Então nós estávamos trabalhando, limpando mato, quando ele chama o filho dele que ficava por ali, e lhe deu uma missão que passo a relatar, encerrado esta crônica. Disse ele:

"Chico, vá fazer um Pé Duro pra mim e traga acesso".

O Chico devia ter uns 7 anos. Evidentemente, nem precisa dizer que o Chico se tornou um exímio fumante.