Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves - UFCG PB
Lembro-me de ter assistido seus
bonecos apenas uma vez. Foi à noite, na
sala da casa de um tio. Colocava a empanada – uma espécie de lençol, num canto
da parede. Duas lamparinas alumiavam a sala. E nós, meninos, sentávamos no chão
enquanto os adultos ficavam em cadeiras ou pelos cantos, pelas janelas... Seu Joaquim era um homem já viajado. Não era
um velho propriamente. Tinha uma voz grossa – hoje diria grave. Muito grave. E
uma risada estranha. Andava de sítio em sítio botando boneco. Viajava num
animal, não sei mais se burro ou jumento. Uma noite no Pesqueiro, outra nos
Alves, outra na Carqueija, outra no Cajuás... Eu sonhei acompanhá-lo por todos
esses lugares.
Conduzia os bonecos, confeccionados por ele próprio, numa mala. Ah, essa
mala era um mistério. Ele não deixava ninguém abrir, ninguém podia ver os
bonecos a não ser à noite, na hora do espetáculo. Nem podíamos entrar na
empanada. E quando começava a apresentação era uma alegria. Os bonecos de
madeira iam surgindo um a um, com estórias as mais diversas. Nunca esqueci do
Casimiro Coco, o valentão. Tinha um bordão: Sou Casimiro Coco/ Da terra do coco/
namoro comigo é pouco. E a cobra? A cobra vinha do canto da parede, sorrateira,
para pegar um ou outro personagem, normalmente uma mocinha frágil. Gritávamos
avisando, mas a personagem não entendia... Sim, era tudo permeado de interação.
Havia uma vitalina procurando casamento.
Qual não foi minha emoção e o riso geral na sala quando ela perguntou: -
O Hélder tai? Tinha também as brigas. Os bonecos eram de madeira, portanto, o
pau comia e era muito divertido. Quando terminava, corríamos para a empanada,
mas a mala já estava fechada.
Pela vida afora, sempre que sei de uma apresentação de bonecos – são
tantos nomes: mamolengos, babão, etc. – dou meu jeito de assistir. Seu Joaquim
me proporcionou uma experiência estética, hoje sei, das mais marcantes. Talvez
daí tenha nascido meu gosto pelo teatro, pelas encenações, que na juventude, em
Fortaleza, pude, com a ajuda do Thindé,
desenvolver um pouco, enfrentando
minha timidez. Mas este já é outro assunto.
Soube, anos depois, que ele tinha morrido. Para onde foram seus
bonecos? Quem voltou a animá-los? Que aprendizes seguiram seus passos? Não sei.
Mas sei que sua imagem, sua voz poderosa nunca deixou de me acompanhar.
Estou resgatando a memória do Joaquim Bonequeiro, até que apareça um aluno da Graduação ou Pós Graduação Para escrever uma Monografia ou TCC.
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