terça-feira, 19 de maio de 2020

A MORTE NA CURVA DA ESTRADA

Gilberto Telmo Sidney Marques*

Segunda-feira, dez de abril de 1998, foi um dia particularmente cruel para todos os que compõem a grande família da FECLESC, a querida Faculdade de Quixadá. No início da noite um acidente na estrada arrebatava as preciosas vidas de duas professoras da Universidade Estadual do Ceará. Não eram apenas mais duas professoras Eram professoras na expressão mais ampla do termo. Verônica e Vânia ingressaram na Universidade Estadual do Ceará pela via legítima do concurso público e iniciaram suas carreiras na Faculdade de Quixadá. 
Verônica era fundadora da FECLESC, antropóloga e mestra em Educação. Foram dela a inspiração e a organização da hemeroteca da FECLESC a primeira da UECE e, juntamente com a professora Yvone Cordeiro, trabalhou na construção do projeto do curso de História.
A professora Vânia era pedagoga, mestra em educação também ofereceu uma extraordinária contribuição à FECLESC na condição de primeira coordenadora do curso de Pedagogia. Em dezembro de 1986 na época em que Vânia era contratada, os cursos de Pedagogia, História e Ciências eram cassados pelo antigo Conselho Federal de Educação. Nessa época a comunidade organizou um grande mutirão em defesa da Faculdade de Quixadá. O esforço de alguns professores, da maioria dos estudantes e dos funcionários logrou evitar o fechamento da FECLESC. Em meio às lutas pelo funcionamento da Faculdade e consolidação de seus cursos Verônica e Vânia sempre estiveram presentes e atuantes. A Comunidade Acadêmica contraiu uma dívida impagável com suas professoras.
Ao longo de muitos anos as corajosas mestras enfrentaram a estrada esburacada e traiçoeira para trazer ao Sertão as suas mensagens de educadoras. Infinitas vezes a morte as espreitou a cada curva da Estrada no Algodão. Quis o destino que a fatalidade as surpreendesse nas imediações de Quixadá. Quixadá que durante tanto tempo fora a preocupação principal de suas vidas profissionais! Quixadá que lhes deve a inequívoca contribuição para a elevação do nível intelectual e a preparação adequada de inúmeros professores para o exercício de suas profissões. Quixadá que lhes deve, acima de tudo, a elevação do nível da consciência crítica da juventude universitária.
As comemorações dos quinze anos de lutas e de resiliência da gloriosa FECLESC tiveram seu brilho empanado, enlutadas que foram pela perda irreparável dessas educadoras pioneiras. Seus exemplos e suas histórias serão, no entanto, o farol para o enfrentamento de novos desafios e o nutriente para novas lutas e novas conquistas. O sangue das mestras, derramado nas estradas do Sertão, será a seiva que fortalecerá todos aqueles que abrem caminhos, acreditam e defendem com entusiasmo a causa sagrada da educação.

Ex-diretor da FECLESC/UECE

Um comentário:

  1. Muito bonito e emocionante sua crônica Telmo, eu que vivi cada momento no encaminhamento das providências pós acidente, por ser o representante da SEDUC na região, como Diretor do CREDE12. Elas vinha de uma formação da SEDUC em um outro CREDE, e não aceitaram a carona no avião do Secretário de Educação, Antenor Naspolini, exatamente por medo de acidente. O enterro das duas no Parque da Paz, contou com a presença do Secretário de Educação, Naspolini e do Governador Tasso Jereissati. Não lembro se o reitor da UECE estava presente, mas devia está. A Educação do Ceará ficou abalada com aquele acidente trágico, que matou o motorista também, um jovem senhor que mirava no Pantanal, hoje Planalto Airton Sena.
    Parabéns Telmo, pela lembrança e pelo estilo inconfundível.

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