sexta-feira, 20 de abril de 2012

DOM CLEMENTE ISNARD

Artigo publicado no JORNAL O POVO no dia 17/12/2011
Morreu dia 24 de agosto (2011), em Recife (PE), o bispo emérito de Nova Friburgo (RJ), e ex-vice-presidente da CNBB, dom Clemente José Carlos Isnard, de 94 anos. Dom Clemente teve uma parada respiratória, enquanto fazia fisioterapia. O sepultamente de seu corpo ocorreu no dia 25, no Mosteiro de São Bento de Olinda. Dom Clemente nasceu no Rio de Janeiro em 8 de julho de 1917 e pertencia à Ordem de São Bento (beneditino). Recebeu a ordenação presbiteral em dezembro de 1942. Em 25 de julho de 1960, foi ordenado bispo para a diocese de Nova Friburgo, onde esteve até ficar emérito em 1992. A partir desta data, tornou-se vigário geral da diocese de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro até o ano de 2004. Dom Clemente tinha como lema episcopal “Seguindo a Ti como pastor”. Exerceu inúmeras atividades, tendo destacada atuação no Concílio Ecumênico Vaticano II em relação à liturgia. Foi membro do Conselho Federal de Cultura (1961), do Conselho Estadual de Educação (1961-1964) e do Conselho para Execução da Constituição de Liturgia (1964-1969). Foi, ainda, Secretário Nacional de Liturgia (1964); Membro da Comissão Episcopal Pastoral da CNBB; Vice-presidente da CNBB (1979-1982); presidente do Departamento de Liturgia do Celam (1979-1982); 2º Vice-presidente do Celam (1983-1987); membro da Congregação para o Culto Divino; membro do 1º Sínodo dos Bispos em 1967. Dom Clemente participou também das Conferências do Episcopado Latino-americano de Puebla (1979) e Santo Domingo (1992). (nota da CNBB) Dom Clemente Isnard foi destaque na mídia após a publicação do livro: Reflexões de um Bispo sobre as instituições eclesiásticas atuais, editora Olho d’água. O livro, um opúsculo, ia ser publicado por uma editora católica, mas foi proibida a sua publicação por todas as editoras católicas do pais, pelo papa Bento XVI, demonstrando o grau de centralização e intolerância ainda existente na hierarquia da Igreja. Mas o que diz neste livro de tão grave que mereceu tamanha atenção do papa e a sua rejeição? O livro simplesmente fala daquilo que muitos religiosos, religiosas e leigos gostariam de falar, mas que dito por um bispo tem mais repercussão. Nele o bispo se manifesta contra a obrigatoriedade do celibato para os padres, se diz favorável a ordenação de mulheres e critica a forma atual de escolha dos bispos, centralizada na nunciatura apostólica. Sobre a obrigatoriedade do celibato, adotado pela Igreja Católica Apostólica Romana no ano de 1074, pelo papa Gregório VII, é uma questão polêmica desde a sua instituição. Muitos católicos já se manifestaram contra, dentre eles, no Brasil, podemos citar o Padre Diogo Antonio Feijó, que em 1829, na qualidade de Deputado fez um amplo discurso na Câmara dos Deputados, criticando o celibato. Naquele tempo no Brasil, muitos padres tinham mulher e filhos e eram protegidos pelo acordo celebrado entre o império do Brasil e a Santa Sé,o que impedia que Roma impusesse sanções aqueles que descumprisse o celibato, o que só poderia acontecer com a aprovação do Imperador. Feijó era um destes. Já no período republicano, mais precisamente na década de 1940 o ex-bispo de Botucatu SP e fundador da Igreja Católica Brasileira, dom Carlos Duarte da Costa, também se insurgiu contra o celibato, após a sua excomunhão pelo papa Pio XII, criou a Igreja Católica Apostólica Brasileira e permitiu, que os padres e bispos de sua recém criada igreja pudessem casar, o que ocorre até hoje Dom Clemente Isnard foi a única autoridade da Igreja, nos últimos anos a se manifestar publicamente sobre esta questão, alinhando-se a todos que se opuseram à obrigatoriedade do celibato em toda a história da Igreja, mas sem romper com ela, apenas para contribuir com o debate entre os católicos, cumprindo a sua missão de pastor. Sobre a ordenação de mulheres, apesar de dizer que não está muito seguro desta posição, mas faz uma reflexão bastante favorável e afirma não ver problema em a igreja adotar esta atitude, pelo contrário iria contribuir com ampliação do número de sacerdotes e consequentemente com a expansão da evangelização. Quanto à escolha dos bispos ele sugere a participação popular na escolha dos bispos e sugere também que o processo fique a cargo da CNBB e não da nunciatura apostólica, como ocorre atualmente. O livro faz uma crítica ao modelo de centralização adotado pelos dos Papas João Paulo II e Bento XVI, que segundo ele estão se afastando do que foi definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. Dom Isnard foi feliz em ter abordado estes temas ainda em vida para que nós católicos possamos ter uma referência interna, de dentro da hierarquia, sobre estas questões. Louve-se a Dom Isnard, que dedicou sua vida a Jesus Cristo, na Igreja, como monge e como bispo e pela sua atitude destemida de debater temas que ainda são tabus para muitos católicos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário