sábado, 17 de abril de 2021

A ICAB NO CEARÁ - CAPÍTULO II - AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO PADRE RAIMUNDO SIMPLÍCIO EM FORTALEZA[1]

   

Introdução

Neste artigo iremos explorar os acontecimentos registrados pela revista Luta, da chegada do Padre Raimundo Simplício ao Ceará, em 1949. São relatos de cartas e telegramas trocados pelo padre e Dom Carlos Duarte Costa, bispo do rio de Janeiro da ICAB. Trata-se de uma oportunidade de visitarmos este ambiente de dificuldade enfrentado pelo padre, que além da falta de estrutura para iniciar seu trabalho pastoral, teve que enfrentar a oposição ferrenha da Igreja católica Apostólica Romana, através da Arquidiocese de Fortaleza e o Governo do Estado, via seus organismos policiais.

 

A chegada do padre Raimundo Simplício e os desafios que o esperavam

 

Após ter sido ordenado e passar por um estágio em Lages, Curitiba, junto ao bispo da ICAB, Dom Antídio José Vargas, o Padre Raimundo Simplício de Almeida, está pronto para assumir o desafio de instalar a primeira paróquia da ICAB no Ceará. Padre Simplício que já tinha sido nomeado pároco da paróquia de São José, da ICAB, em Fortaleza, viaja de navio para a capital cearense. O fato é registrado assim pela revista luta:

“A bordo do “Rodrigues Alves”, do Loyd Brasileiro, viajou para Fortaleza, no dia 27 de Maio do corrente ano, o Padre Raimundo Simplício de Almeida, chegando lá no dia 4 de junho.”

            Aqui chegando, não perdeu tempo, tratou de iniciar os trabalhos pastorais de imediato. Para tanto contou com o apoio de diversos amigos. Um fato interessante de registrar, é que a sua atuação vai ser no coração da cidade, no centro de Fortaleza, bairro que, na época, era ocupado pela classe média da capital. Ao contrário de hoje, o cetro, no final da década de 1940, era um bairro residencial, embora também fosse comercial. Mas toda a cúpula do poder público e da Igreja estava no centro da cidade: Sede do governo do estado, da Assembleia legislativa estadual, do Poder judiciário e também do Arcebispado, que na época, também tinha seu palácio.[2] Vejamos como a revista Luta, relata os primeiros passos do padre Raimundo Simplício em fortaleza:

 

Dias depois, começou o Padre Raimundo a funcionar, em uma modesta capela, armado na residência de seus pais, à rua D. Tereza Cristina, n° 227, celebrou alguns domingos, na residência do prof. Euclides Cesar, à rua Tristão Gonçalves, n° 730, crescendo cada vez mais a simpatia popular pela Igreja Nacional. Começaram os batizados e casamentos; pedidos de Missa, na Associação dos Chaufeurs; bênção de casas, e etc.

 

 

            A reação da Arquidiocese de Fortaleza, em relação a atuação do padre Raimundo Simplício, em sua ação pastoral, alo novo no Ceará, não demorou, foi imediata. Não sei se é oportuno, mas podemos lembrar da terceira lei de Newton, que diz: “toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto. ” Talvez, para este caso, envolvendo o Padre Raimundo Simplício e a arquidiocese de Fortaleza, tenhamos que desconsiderar a expressão “ de igual intensidade”, uma vez que o movimento contrário da Arquidiocese, contra o padre Simplício era de muito maior intensidade, pelo tamanho e grandiosidade da estrutura da Igreja Romana, consubstanciada pela Arquidiocese de Fortaleza. Vejamos o trecho da revista Luta, que registra o fato:

Em vista disso, a Cúria Metropolitana baixou o seguinte aviso ao clero e fiéis “romanos”; “aviso n° 316. Da ordem do Exmo. Mons. Vigário Geral, aviso a todos os católicos que não assistam a nenhum ato religioso celebrado pelo Sr. Raimundo Simplício, pertencente a seita denominada “Igreja Católica Brasileira” (do ex bispo do Maura), porquanto está o mesmo debaixo de severas censuras eclesiásticas e peca mortalmente o católico, que, de qualquer modo de favorecer tal heresia. (C.D.C. Can. 2316). Os Revmo. Vigários, Reitores e capelães comentem este aviso nas missas do domingo. Fortaleza, 16 de junho de 1949. a) Padre André V. Camurça, Secretário do Arcebispado. ”     

Como se ver, oi uma reação muito forte. Inclusive com ameaça de cometimento de pecado a quem assistisse ou colaborasse com o padre e sua missão pastoral considerada uma heresia. Percebemos que foi muito difícil o trabalho do sacerdote neste início. Vejamos qual foi a sua atitude, da população e do Padre Simplício, particularmente neste episódio do comunicado lido em todas as paróquias e instituições da Igreja na capital, relatado pela revista LUTA, transcrevendo o Diário do Povo:[3]

 

A resposta do Padre Raimundo não demorou. Eis como descreve o “Diário do Povo” de Fortaleza, de 20 de julho de 1949; “Domingo último, perante numerosa assistência, o ilustre sacerdote Raimundo celebrou mais uma missa, na residência do Prof. Euclides Cesar, na Av. Tristão Gonçalves, n° 730. Muitas famílias da Igreja Católica (Romana) ali compareceram, fugindo à disciplina que as proíbe de assistir à missa em português, sob pena de excomunhão”, o ato decorreu um ambiente de profundo respeito e compreensão religiosa. Padre Raimundo Simplício proferiu, depois da missa, fervorosa prática, exortando o auditório a imitar nossos patrícios do sul, que lutam, pela vitória da Igreja Brasileira, independente do Vaticano. Estrepitosos vivas rebearam no recinto. Em seguida pelo Padre Simplício, foi benzida a residência do prof. Cesar, que é onde o ilustre Reverendo celebra, dominicalmente, até que se encontre um local mais espaçoso para conter a multidão de curiosos e simpatizantes da Igreja Católica, reformada para melhor. Cogita-se da celebração de uma missa, na Associação dos Chaufers. O público está avisado com antecedência”.

Como se ver, foi tão grande a expectativa de assistir a uma missa celebrada em Português, posto que na época só se celebrava em Latim, que o comunicado assinado pelo Vigário Geral, não sortiu efeito, pelo menos nestes dias imediatos à sua proclamação. É o que podemos perceber. Entendemos que isto se deu, pela curiosidade de assistir a missa em língua vernácula, pela novidade da nova igreja, uma igreja nacional e também podemos relacionar a credibilidade do sacerdote, cercados por muitos amigos que o apoiaram nesta missão tão difícil.

O fato de se está a procura de um espaço maior para as celebrações, dar uma noção de que a ICAB, através do padre Simplício, foi muito bem acolhida pela sociedade cearense, que não se intimidou perante a arquidiocese, pelo contrário, a desafiou.[4]

 

Uma nova investida para intimidar o padre Simplício

           

Foi difícil para o padre Raimundo Simplício, realizar seu trabalho pastoral no Ceará. A cada dia surgia mais um desafio. A Arquidiocese usava seu poder de influência junto ao governo, para intimidá-lo, mas ele não desistia e, ao que parece, se entusiasmava mais com o seu trabalho. Podemos inferir que esta postura da Arquidiocese, funcionava, também, como estímulo desafiador ao padre. Por outro lado, tornava público o seu trabalho, pois o colocava nas páginas dos jornais, principal meio de comunicação da época. O novo episódio que ele enfrentou, foi uma denúncia junto à polícia Civil, segundo a qual estaria usando a batina dos padres Sacramentinos, que assim é relatada pela revista Luta:

“E a Igreja Romana prossegue na perseguição à Igreja Brasileira.

Do ocorrido no Ceará, recebeu Dom Carlos o seguinte telegrama, passado pelo Padre Raimundo; “Acabo entrevistar-me Secretário Polícia Estado, esclarecendo pedira meu comparecimento seu gabinete, em face telegrama Ministro Justiça, a quem eu fora denunciado andar, nesta capital, veste talar Sacramentinos, embair[5] boa fé do povo. O Secretário convenceu-se improcedência denúncia, declarando responderia Ministro. Respeitosamente. a) Padre Raimundo. E assim diz o Padre Raimundo, “falhou, mais uma investida dos funcionários de Roma”.

             E conseguindo sair-se de mais este obstáculo, padre Simplício, a meu juízo, se fortalece no seu desiderato, ou seja de instalar e ampliar os trabalhos da ICAB no Ceará.

            Dom Carlos acompanha, par e passo os acontecimentos no Ceará, e mantém uma correspondência permanente com seu discípulo, dando-lhe força e estimulando o seu trabalho. Em resposta ao telegrama recebido, escreve Dom Carlos a Dom Simplício, em duas cartas. Vamos registrar os principais trechos de ambas.

             Na primeira, o fragmento que temos, é mais sintético, mas igualmente encorajador e de repúdio ao Governo do estado. Diz Dom Carlos:

“Resista a todos e qualquer violência do Governo do Estado, preferido a prisão a qualquer cessão dos nossos direitos de cidadãos livres, que não podem ficar subordinados a um internacionalismo, que visa entregar a nossa Pátria ao estrangeirismo. Não. Não podemos e não devemos ceder. Esta é a hora de lutar, para libertar a nossa Pátria do jugo nefasto do Vaticano. Para a frente. ”

 

Na segunda carta, Dom Carlos amplia o seu discurso contra o Arcebispo, dom Antônio de Almeida Lustosa, e ataca, de forma furiosa, o Estado do Vaticano, procurando, como sempre fazia, demonstrar que a Igreja Católica era uma instituição internacional, enquanto que a ICAB, uma instituição genuinamente brasileira. Também, aproveita o ensejo, para agradecer aos advogados que estavam dando apoio ao padre Simplício nessas questões junto à polícia Civil do Ceará. Vejamos um pequeno trecho da carta:

“Receba meus calorosos parabéns, pelo modo com que se conduziu na defesa dos legítimos interesses da ICAB, que são os interesses do Cristo e da Pátria. Continue assim e dê o desprezo a êsse desavergnhado Dom Lustosa, que representa, como a Igreja Romana (...) Cardiais, Bispos e Padres Romanos, juridicamente, falando não são brasileiros, porque renegam a Pátria, em favor de uma Igreja, que põe os seus interesses acima dos interesses da Pátria. Na pessoa do Prof. Euclides Cesar e na do Dr. Germano Holanda, abraço o heroico povo cearense, nesta hora, em que conto com ele, para o aniquilamento completo do Vaticano na nossa Pátria”.

            Assim nós encerrados este capítulo, no qual ficou evidente a que não foi nada fácil o trabalho pioneiro do padre Raimundo Simplício de Almeida, pioneiro da ICAB no Ceará. Diante das dificuldades eu temos hoje, estas dificuldades ainda existem, mas, comparadas às que ele enfrentou, são bem mais leves.

Outro aspecto que quero destacar e já fiz alusão, é o fato de a ICAB ter se instalado, na época, no coração da cidade, disputando o espaço com a Igreja Católica, que não tinha essa experiência de ter uma “concorrente” do mesmo rito, tão católica quanto ela. A experiência até então, era da concorrência com as igrejas denominadas, à época, de protestantes, como era o caso da Igreja Presbiteriana, que também se instalou no centro da cidade, ao lado do Palácio do Governo.

Hoje, fazendo uma comparação, esta disputa está se dando na periferia da cidade. A ICAB saiu do centro da cidade, e foi para a periferia, para estar ao lado das camadas mais vulneráveis da população da cidade.

 

Á guisa de conclusão

 

Creio que os relatos aqui relatados e nossos comentários, sejam interessantes, não só para a ICAB, no Ceará e no Brasil, que busca conhecer mais a sua história, para assim traçar novos rumos, como também é importante para a História da Religião no Brasil. Estamos trazendo ao público, relatos de acontecimentos que ocorreram no Ceará e que ficaram, como que, “hibernando”, até que fossem disponíveis para pesquisadores e estudiosos da ICAB e da religião em geral, pudessem ter acesso e passassem a manipular estas informações, como é o caso neste breve artigo.

 

Referências:

Revista Luta Nº 09, outubro de 1949, trechos transcritos por Dom José Antenor da Rocha.

Alves, Francisco Artur Pinheiro. Projeto Carqueija: Uma experiência de Educação popular e reforma agrária da Igreja Católica. Campina Grande, Editora Bagagem, 2013.

______ Cisma na Igreja Católica. O bispo de Maura e a fundação da Igreja Brasileira. Campina Grande, Editora Bagagem, 2021.

______ História do Ceará em Cordel. Campina Grande, Bagagem, 2016.

Faria, José Airton de. História do Ceará, Fortaleza, Edições ao Livro Técnico, 2007. 2ª edição.

 

 

 



[1] Fonte de pesquisa deste texto: Revista LUTA, Nº 09, Outubro de 1949, transcrição de Dom José Antenor da Rocha – datilografado.

[2] O Antigo Palácio do Bispo, construído pelo governo Imperial para instalar o primeiro bispo do Ceará, fora vendido por Dom josé de Medeiros delgado e hoje é sede da Prefeitura Municipal de Fortaleza.

[3] Aos que não são cearenses, vale a pena lembrar que o Diário do Povo, pertencia ao advogado e jornalista Jáder de Carvalho, que era ateu e pertencia, ao partido Comunista, quando de sua legalidade.

[4] Não tenho nenhum dado para provar o que vou dizer, mas posso especular. Tenho a impressão de que o maior choque provocado pela ICAB, em relação à Igreja Romana, foi a celebração da missa em Português. Penso que isso foi muito impactante e me arvoro a dizer eu este fato influenciou o episcopado brasileiro, na decisão tomada pelo concílio Vaticano II, que encerrou com as celebrações em latim e passou a celebrar em língua vernácula, seguindo assim, neste particular, à ICAB.

[5] Não consegui entender este termo. Creio que foi datilografado erroneamente.

terça-feira, 6 de abril de 2021

A ICAB NO CEARÁ - à Guisa de Novela. . Capítulo 01 – O Pioneirismo do Padre Raimundo Simplício [1].

 


Prof. Francisco Artur Pinheiro Alves

Iniciaremos, com este texto, uma série artigos sobre a ICAB no Ceará, no período de 1948 a 1967. Este corte temporal que fizemos, é para demarcar o período que o Padre Raimundo Simplício de Almeida, esteve na liderança da igreja em nosso estado. Sua nomeação como padre em 1948, até a sua saída e da ICAB e entrada na Igreja católica Apostólica Romana em 1967. Entendemos eu seja esse um ciclo, no qual duas personalidades dominam o cenário na liderança da ICAB. A nível nacional, Dom Carlos Duarte Costa, o Bispo de Maura, hoje São Carlos do brasil, para a ICAB, a nível local padre Raimundo Simplício de Almeida, depois Dom Simplício, primeiro padre e primeiro bispo da ICAB no Ceará.

Raimundo Simplício de Almeida, nasceu no município de Maranguape, no sítio de Umariseiras, distrito de Umariseiras, no Estado do Ceará, no dia 11 de junho de mil novecentos e vinte e quatro, filho de Manuel Simplício de Barros e de Joaquina de Almeida Barros. Foi batizado na paróquia de Maranguape, em 9 de dezembro de 1947, crismado na paróquia do Pacoti, da Arquidiocese de Fortaleza, sendo seu padrinho de crisma Dom Manuel da Silva Gomes, Arcebispo resignatário de Fortaleza.  Cursou o seminário dos capuchinhos de Mecejana no estado do Ceará onde fez o curso primário, passando depois para o seminário dos capuchinhos, em Maceió, no Estado de Alagoas, onde completou o curso ginasial.  Ingressou, em seguida, no noviciado dos capuchinhos em Recife, Estado de Pernambucano, de onde saiu doente. Posteriormente, entrou para o seminário dos Padres Salvatorianos, em Pacoti, onde lecionou geografia, história do Brasil e Português. Mudou-se, depois, para Manhumirim, no Estado de Minas Gerais, onde foi recebido pelos Padres Sacramentinos. Lá lecionou Latim, Português e História da Civilização, no ginásio dos Padres Sacramentinos, de Patos de Minas. Não conseguindo ordenar-se[2] na Igreja Romana pediu a S. Exa. Revma. o Sr. Dom Carlos Duarte Costa Bispo do Rio de Janeiro da ICAB, para ser admitido na Igreja Católica Apostólica Brasileira e ordenar-se.

Em 16 de janeiro de 1948, atendendo ao requerimento de Raimundo Simplício de Almeida, Dom Calos deu o seguinte despacho:

“Faça, em nossas mãos, o juramento de fidelidade aos princípios da Igreja Nacional Brasileira, não admitindo em território nacional, a intromissão da potência religiosa estrangeira, e nós admitiremos no seio da Igreja Católica Apostólica Brasileira, designando o dia 17 de janeiro de 1948, para a promoção ao Diaconado e o dia 18 de janeiro para a promoção do Presbiterado”. (Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1948, Carlos Duarte Costa, Bispo do Rio de Janeiro.)

            No dia 18 de janeiro de 1948, antes de ordenar sacerdote, Raimundo Simplício de Almeida fez o juramento exigido, por Dom Carlos Duarte Costa, sendo-lhe, então, conferida a ordem sacerdotal.[3]

            Padre Simplício celebrou sua primeira Missa cantada, na Igreja Paroquial de Santa Ana, na rua do Couto n° 54, Penha, RJ, sendo essa a primeira Missa cantada de um sacerdote da Igreja Brasileira. A Missa teve a assistência de Dom Carlos Duarte Costa.

            Após Celebrar as primeiras, Missas, Dom Carlos Duarte Costa enviou o novo sacerdote fazer um estágio em Santa Catarina com Dom Antídio José Vargas, em Lages, para preparar o novo sacerdote para a luta da ICAB. A Dom Antídio José Vargas, Bispo de Santa Catarina, deve a Igreja Brasileira a formação do Padre Raimundo Simplício de Almeida.[4]

Concluído um ano de estágio, Dom Carlos Duarte Costa, achou ter chegado o momento do Padre Raimundo Simplício de Almeida iniciar o “sagrado e patriótico ministério sacerdotal, no seu estado natal, o Ceará”.

            Em 19 de março de 1949 ano, Dom Carlos Duarte Costa, na qualidade de Bispo do Rio de Janeiro da ICAB, criou a Paróquia de S. José de Fortaleza, com sede na, capital do Estado do Ceará. Segue abaixo o decreto de nomeação do primeiro padre da ICAB no CEARÁ. Um documento realmente histórico.

“Fazemos saber que atendemos às necessidades espirituais e sociais do Estado do Ceará e agradecemos a oportunidade que Deus na sua infinita sabedoria, nos proporciona na pessoa do Ilmo. e Revmo. Sr. Padre Raimundo Simplício de Almeida natural do Estado, e Sacerdote da Igreja Católica Apostólica – Brasileira, cremos ter chegado a hora de fazer conhecer, ao povo desse Estado, as belezas inarráveis da vida Cristã, que consiste na posse de todos os tesouros da ciência e da sabedoria, contidos no Coração dulcíssimo do Verbo de Deus, feito carne, para nossa salvação. Na realidade, Cristo veio ao mundo, para que tivéssemos a vida divina em nós e a tivéssemos em abundância. E nossa abundância da vida divina, que a Igreja Brasileira quer dar aos brasileiros, pondo em prática o Evangelho da Fraternidade Humana. E, por isso, que, pelo presente Nosso Decreto, criamos a primeira paróquia do Ceará, designada para seu patrono aquele que, por Deus é tido e havido por HOMEM JUSTO: S. José, esposo caríssimo da Mãe de Deus e que Nós, em virtude e méritos, igualamos à própria Mãe de Jesus, Mãe Santíssima.

E pelo presente Nosso Decreto; Havemos por bem nomear, como nomeamos, Pároco da Paróquia de S. José de Fortaleza, o Ilmo. Revmo. Sr. Padre Raimundo Simplício de Almeida, esperando que ele corresponda à confiança que nele depositamos.

Dado o passado, nesta cidade ao Rio de Janeiro, sob o nosso sinal e Selo das Nossas Armas, 19 de março de 1949, festa do glorioso Patriarca S. José.

E eu o Padre Manuel Cela laranjeiras, Secretário Geral do Bispado, o subscrevi.

a) + Carlos Duarte Costa – Bispo do Rio de Janeiro.

Estes atos narrados pela revista Luta e que tivemos acesso através de Dom José Antenor da Rocha, colecionador da Revista, no ano de 2001, nos trazem o registro de uma história que não pode ser apagada, pelo contrário, deve ser propagada, tamanho é seu valor histórico. Tanto para ICAB em si, como para os cearenses em geral, particularmente os estudiosos da História do Ceará e da História da Igreja, disso temos consciência.

Com este primeiro texto, que poderíamos chamar de episódio, se o relacionarmos ao estilo de novela, tão usado no passado por nossos escritores, como José de Alencar, iniciamos uma trajetória que culminará com um livro sobre a Igreja católica apostólica Brasileira no Ceará. Claro, se deus permitir.

Fortaleza, 06 de abril de 2021

Prof. Francisco Artur Pinheiro Alves



[1] Fonte de pesquisa , revista LUTA N° 9 – outubro de 1949, cedida em 2001, por Dom José Antenor da Rocha, então bispo da ICAB em Caucaia.

[2] Segundo o texto da revista luta, Padre Simplício não teria conseguido se ordenar “por perseguição dos capuchinhos, dos Salvatorianos, dos Sacramentinos, do Arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa, do núncio Apostólico e do atual Bispo de Petrópolis, Dom Manuel Cintra , Visitador Pontifício dos Seminários do Brasil”.

[3] Diz o texto original da LUTA: Raimundo Simplício de Almeida, que até então assinava o seu nome como Raimundo Simplício de Almeida Barros, passou, como sacerdote da Igreja Brasileira, a assinar seu nome como Raimundo Simplício de Almeida, para que sua vida sacerdotal esteja de acordo com o seu registro civil e militar.

 

[4] Grande era a expectativa de Dom Carlos em relação a Dom Simplício, segundo o texto, “de quem a Igreja Nacional muito espera na regeneração cristã e na luta para a expulsão do território nacional do seu maior inimigo: O VATICANO”.