INTRODUÇÃO
Neste momento em que estamos realizando
a SEMANA DE HISTÓRIA, com a temática da Segunda Guerra Mundial, trago aos
participantes deste importante evento de nosso curso, alguns fragmentos do
documento “ Manifesto à Nação Brasileira”, publicado por Dom Carlos Duarte
Costa, ex-bispo de Botucatu-SP e ex-bispo de Maura, excomungado pelo papa Pio
XII em 1945.
ESCOMUNHÃO DE DOMCARLOS E SUA VERSÃO
Dom Carlos Duarte Costa, foi excomungado
pelo papa Pio XII em1945, após uma convivência bastante conflituosa entre ele e
a cúpula da Igreja católica no Brasil e em Roma. Ele mesmo narra, assim, sua
excomunhão”: “Pela leitura dos jornais do dia 06 de Julho do corrente ano, tive
conhecimento que um homem, igual a mim, com os mesmos poderes que eu tenho,
Bispo como eu sou,. Pastor de almas como eu sou me havia excomungado.”
O bispo, naturalmente muito revoltado
com a sua excomunhão, faz uma relação direta entre a sua excomunhão e sua
postura favorável a que o Brasil declarasse guerra a Alemanha, desejo este que
ficou manifestado em telegrama que teria enviado ao Presidente Getúlio Vargas.
Ou seja, segundo ele, no trecho abaixo de seu manifesto, teria sido excomungado
por ter parabenizando o presidente Getúlio Vargas por declarar guerra à Alemanha
e no mesmo telegrama denunciar membros da hierarquia da igreja no Brasil, à
época, ligados ao Nazi-Facismo, como podemos ler abaixo:
Os bons brasileiros sabem que eu fui
excomungado, porque em 17 de Setembro de 1942, passei o seguinte telegrama ao
Exmo. Sr. Presidente da República: “No
momento em que V. Exa. Decreta mobilização,
venho trazer-lhe meu abraço
irrestrita solidariedade pondo-me inteiro dispor Nação. Com mobilização geral,
chamando às armas todos os brasileiros defesa Pátria, lembro ser necessário
outra mobilização – a
espiritual, para que não
suceda ao Brasil o que se passou com França,
devendo ser retirados suas dioceses, prelazias, paróquias, conventos, colégios,
bispos, prelados, padres, frades, freiras, estrangeiros e nacionais,
partidários nazi-fascismo-falangismo.
Em outro trecho do longo manifesto, com
o sub título de “Episcopado Facista”, ele denuncia o que chama de “Hispanidad,
que consistia em um grupo de pessoas partidários do Facismo organizados a
partir da Espanha, com uma conecção no Brasil. Vejamos o texto abaixo:
EPISCOPADO
FASCISTA
Fui excomungado porque denunciei de “Hispanidad” o
episcopado brasileiro, unido ao episcopado das demais nações
americanas, do norte, do centro e do sul, preocupado com a situação da
Igreja fascista, no após-guerra. Era a falange em ação. A organização constava
de um Comitê, conjunto de partidos fascistas de Portugal e da Espanha, com
apoio governamental de Lisboa e de Madrid. Raimundo Fernando Cuesta, embaixador
da Espanha no Brasil, era o chefe. Do Rio de Janeiro, Cuesta dirigia todas as
atividades da falange na América do Sul. Com os seus cinco secretários,
amparados por passaportes diplomáticos, Cuesta comunicava-se com toda a
América, organizando o movimento que deveria finalizar com o Império Ibérico,
unidos os ditadores Salazar e Franco para devorarem as nações americanas,
restabelecendo, destarte, a onipotência papal. O órgão falangista era “Nueva
Espana”
editado na Av. Araújo
Porto Alegre, 70, na cidade do Rio de Janeiro, veiculador das notícias
para Berlim, enviadas pela Embaixada da Espanha. Dificultada a ação da falange,
pelo estado da guerra do Brasil, o estado maior da “Hispanidad”
passou para a República
Argentina. E eu, de perto, acompanhava o automóvel
da embaixada da Espanha, dirigindo-se para a Nunciatura Apostólica e ali parado
horas e mais horas. E o povo brasileiro sabe que eu não minto.
O texto é recheado de denúncias contra
o Papa Pio XII e ao clero do Brasil e de outras partes do mundo em que, segundo
ele, a Igreja teria apoiado o Facismo. Ele cita textualmente o caso da Igreja Ortodoxa Grega da Rumânia, conforme
podemos verificar no trecho seguinte:
O FASCISMO DA RUMÂNIA
Intimidada pela ameaça comunista, a
Igreja Ortodoxa Grega, da Rumânia, uniu-se à Igreja Romana, quer dizer, ao
nazismo.
O Arcebispo e os Bispos, com exceção de
um, Monsenhora Fielder, tornaram-se agentes de Hitler.
Todas as paróquias, mosteiros, escolas
e a imprensa católica colocaram-se ao serviço do nazismo e do fascismo.
Em todas as paróquias, havia uma sede
do fascio, obedecendo, todas, às ordens de um sacerdote italiano, nomeado chefe
por Mussolini.
Ele declara ainda que teria sido preso
antes, em 1994 e o motivo era a por ser um comunista, segunda declara. A prisão
também teria sido uma articulação entre as autoridades da Igreja no Rio de
Janeiro e “grupos facistas”. Vejamos mais este fragmento de seu texto.
MINHA PRISÃO
Em 06 de Julho de 1944, a minha casa
ficou cercada, por agentes da polícia, e no dia seguinte, eu era preso, por
ordem do governo da República, a pedido do Núncio Apostólico e do Arcebispo do
Rio de Janeiro, mancomunado com um grupo de fascista brasileiros
Meu destino era a Fortaleza de Santa
Cruz. Fui, porém, enviado para Belo Horizonte, onde fui fichado como comunista
e, em seguida, recolhido a uma casa, na cidade de Bonfim, no Estado de Minas
Gerais, com sentinela à porta e investigadores dentro de casa.
Lá fiquei até 06 de Setembro de 1944,
quando, a pedido da Associação Brasileira de Imprensa e da Política das Nações
Unidas, intervindo junto ao governo brasileiro, por intermédio de suas
Embaixadas, fui posto em liberdade.
Aqui manifesto toda minha gratidão à
Associação Brasileira de Imprensa, de um modo especial ao seu ilustre
Presidente Herbert Moses, e às Embaixadas dos Estado Unidos, da Inglaterra e do
México.
Em mais um trecho ele reforça a sua convicção
de que houve uma relação entre a sua excomunhão e a postura da Igreja em
relação à Segunda Guerra Mundial e afirma textualmente que tal política era
liderada pelo Papa Pio XII, a quem trata em todo o texto de “meu irmão Eugênio
Pascelli, nome de batismo do Papa Pio XII. Vejamos o fragmento:
Fui, pois excomungado porque não me
sujeitei à política fascista do meu irmão, Eugênio Pacelli. E os bons
brasileiros, separam-se da Igreja Romana, porque não admitem, não querem fazer
parte de uma igreja fascista.
Nessa guerra, a Igreja Romana tornou
posição ao lado do nazi-fascismo, porque ela, a Igreja Romana, é fascista na
sua estrutura, nas encíclicas pontifícias, mesmo, perfeita no seu fascismo, que
é o solidarismo católico. Coloca ela seus interesses econômicos acima do bem
espiritual das almas e destarte, torna-se defensora acérrima do capitalismo e
do imperialismo.
Como se vê, e a leitura completa do
texto nos dá mais convicção, Dom Carlos Duarte Costa denuncia em mais de um
trecho de seu “Manifesto à Nação”, que sua excomunhão está diretamente ligada à
sua postura contra o Nazismo e o Facismo e pela defesa que fez para que o
Brasil declarasse guerra à Alemanha, o que só veio a ocorrer em 1943.
Foi a partir de sua excomunhão que ele organizou
e registrou a Igreja Católica Apostólica Brasileira – ICAB, na qual aboliu a
obrigatoriedade do celibato, a missa passou a ser celebrada na língua pátria e
claro, não ficava vinculada ao Vaticano.
À GUISA DE CONCLUSÃO
Podemos dizer que houve um cisma na
Igreja Católica Romana no Brasil e um dos protagonistas deste movimento,
vincula a sua excomunhão, ato que provocou o cisma, à sua postura contra o
Nazismo e o Facismo e ao fato de ser defensor de que o Brasil declarasse guerra á
Alemanha e expulsasse os seus colegas de clero simpatizantes dos nazistas e
facistas. Evidentemente que a sua relação com o Vaticano já era conflituosa
desde a sua saída da diocese de Botucatu, ato que nunca aceitou e de sua
nomeação como bispo de Maura, uma diocese extinta da Muritânia. Mas suas
palavras são tão fortes que precisamos analisa-las com bastante atenção para
verificar o quanto esta sua postura contribuiu para o seu desligamento da
Igreja Romana.
P. S.
Este é um tema instigant e que merece a
atenção dos que tem interesse em estudar
as relações Igreja Estado, Segunda Guerra Mundial ou mesmo na história
da Igreja no Brasil. Ficamos á disposição dos alunos interessados neste tema.
Quem tiver interesse de ler o manifesto
de Dom Carlos na íntegra o mesmo está em vários sites na internet. Eu mesmo tenho um blog no qual
publiquei este manifesto e o endereço é este: www.bispodeamura.blogspot.com