sexta-feira, 17 de abril de 2015

A EXCOMUNHÃO DE DOM CARLOS DUARTE COSTA, na perspectiva dos reflexos da Segunda Guerra Mundial na Igreja Católica no Brasil ( texto em construção) Prof. Francisco Artur Pinheiro Alves


INTRODUÇÃO
Neste momento em que estamos realizando a SEMANA DE HISTÓRIA, com a temática da Segunda Guerra Mundial, trago aos participantes deste importante evento de nosso curso, alguns fragmentos do documento “ Manifesto à Nação Brasileira”, publicado por Dom Carlos Duarte Costa, ex-bispo de Botucatu-SP e ex-bispo de Maura, excomungado pelo papa Pio XII em 1945.
ESCOMUNHÃO DE DOMCARLOS E SUA VERSÃO
Dom Carlos Duarte Costa, foi excomungado pelo papa Pio XII em1945, após uma convivência bastante conflituosa entre ele e a cúpula da Igreja católica no Brasil e em Roma. Ele mesmo narra, assim, sua excomunhão”: “Pela leitura dos jornais do dia 06 de Julho do corrente ano, tive conhecimento que um homem, igual a mim, com os mesmos poderes que eu tenho, Bispo como eu sou,. Pastor de almas como eu sou me havia excomungado.”
O bispo, naturalmente muito revoltado com a sua excomunhão, faz uma relação direta entre a sua excomunhão e sua postura favorável a que o Brasil declarasse guerra a Alemanha, desejo este que ficou manifestado em telegrama que teria enviado ao Presidente Getúlio Vargas. Ou seja, segundo ele, no trecho abaixo de seu manifesto, teria sido excomungado por ter parabenizando o presidente Getúlio Vargas por declarar guerra à Alemanha e no mesmo telegrama denunciar membros da hierarquia da igreja no Brasil, à época, ligados ao Nazi-Facismo, como podemos ler abaixo:
Os bons brasileiros sabem que eu fui excomungado, porque em 17 de Setembro de 1942, passei o seguinte telegrama ao Exmo. Sr. Presidente da República: No momento em que V. Exa. Decreta mobilização, venho trazer-lhe meu abraço irrestrita solidariedade pondo-me inteiro dispor Nação. Com mobilização geral, chamando às armas todos os brasileiros defesa Pátria, lembro ser necessário outra mobilização a espiritual, para que não suceda ao Brasil o que se passou com França, devendo ser retirados suas dioceses, prelazias, paróquias, conventos, colégios, bispos, prelados, padres, frades, freiras, estrangeiros e nacionais, partidários nazi-fascismo-falangismo.
Em outro trecho do longo manifesto, com o sub título de “Episcopado Facista”, ele denuncia o que chama de “Hispanidad, que consistia em um grupo de pessoas partidários do Facismo organizados a partir da Espanha, com uma conecção no Brasil. Vejamos o texto abaixo:
EPISCOPADO FASCISTA
Fui excomungado porque denunciei de Hispanidad o episcopado brasileiro, unido ao episcopado das demais nações americanas, do norte, do centro e do sul, preocupado com a situação da Igreja fascista, no após-guerra. Era a falange em ação. A organização constava de um Comitê, conjunto de partidos fascistas de Portugal e da Espanha, com apoio governamental de Lisboa e de Madrid. Raimundo Fernando Cuesta, embaixador da Espanha no Brasil, era o chefe. Do Rio de Janeiro, Cuesta dirigia todas as atividades da falange na América do Sul. Com os seus cinco secretários, amparados por passaportes diplomáticos, Cuesta comunicava-se com toda a América, organizando o movimento que deveria finalizar com o Império Ibérico, unidos os ditadores Salazar e Franco para devorarem as nações americanas, restabelecendo, destarte, a onipotência papal. O órgão falangista era Nueva Espana editado na Av. Araújo Porto Alegre, 70, na cidade do Rio de Janeiro, veiculador das notícias para Berlim, enviadas pela Embaixada da Espanha. Dificultada a ação da falange, pelo estado da guerra do Brasil, o estado maior da Hispanidad passou para a República Argentina. E eu, de perto, acompanhava o automóvel da embaixada da Espanha, dirigindo-se para a Nunciatura Apostólica e ali parado horas e mais horas. E o povo brasileiro sabe que eu não minto.

O texto é recheado de denúncias contra o Papa Pio XII e ao clero do Brasil e de outras partes do mundo em que, segundo ele, a Igreja teria apoiado o Facismo. Ele cita textualmente o caso  da Igreja Ortodoxa Grega da Rumânia, conforme podemos verificar no trecho seguinte:

O FASCISMO DA RUMÂNIA
Intimidada pela ameaça comunista, a Igreja Ortodoxa Grega, da Rumânia, uniu-se à Igreja Romana, quer dizer, ao nazismo.
O Arcebispo e os Bispos, com exceção de um, Monsenhora Fielder, tornaram-se agentes de Hitler.
Todas as paróquias, mosteiros, escolas e a imprensa católica colocaram-se ao serviço do nazismo e do fascismo.
Em todas as paróquias, havia uma sede do fascio, obedecendo, todas, às ordens de um sacerdote italiano, nomeado chefe por Mussolini.


Ele declara ainda que teria sido preso antes, em 1994 e o motivo era a por ser um comunista, segunda declara. A prisão também teria sido uma articulação entre as autoridades da Igreja no Rio de Janeiro e “grupos facistas”. Vejamos mais este fragmento de seu texto.
MINHA PRISÃO

Em 06 de Julho de 1944, a minha casa ficou cercada, por agentes da polícia, e no dia seguinte, eu era preso, por ordem do governo da República, a pedido do Núncio Apostólico e do Arcebispo do Rio de Janeiro, mancomunado com um grupo de fascista brasileiros
Meu destino era a Fortaleza de Santa Cruz. Fui, porém, enviado para Belo Horizonte, onde fui fichado como comunista e, em seguida, recolhido a uma casa, na cidade de Bonfim, no Estado de Minas Gerais, com sentinela à porta e investigadores dentro de casa.
Lá fiquei até 06 de Setembro de 1944, quando, a pedido da Associação Brasileira de Imprensa e da Política das Nações Unidas, intervindo junto ao governo brasileiro, por intermédio de suas Embaixadas, fui posto em liberdade.
Aqui manifesto toda minha gratidão à Associação Brasileira de Imprensa, de um modo especial ao seu ilustre Presidente Herbert Moses, e às Embaixadas dos Estado Unidos, da Inglaterra e do México.
Em mais um trecho ele reforça a sua convicção de que houve uma relação entre a sua excomunhão e a postura da Igreja em relação à Segunda Guerra Mundial e afirma textualmente que tal política era liderada pelo Papa Pio XII, a quem trata em todo o texto de “meu irmão Eugênio Pascelli, nome de batismo do Papa Pio XII. Vejamos o fragmento:
Fui, pois excomungado porque não me sujeitei à política fascista do meu irmão, Eugênio Pacelli. E os bons brasileiros, separam-se da Igreja Romana, porque não admitem, não querem fazer parte de uma igreja fascista.
Nessa guerra, a Igreja Romana tornou posição ao lado do nazi-fascismo, porque ela, a Igreja Romana, é fascista na sua estrutura, nas encíclicas pontifícias, mesmo, perfeita no seu fascismo, que é o solidarismo católico. Coloca ela seus interesses econômicos acima do bem espiritual das almas e destarte, torna-se defensora acérrima do capitalismo e do imperialismo.
Como se vê, e a leitura completa do texto nos dá mais convicção, Dom Carlos Duarte Costa denuncia em mais de um trecho de seu “Manifesto à Nação”, que sua excomunhão está diretamente ligada à sua postura contra o Nazismo e o Facismo e pela defesa que fez para que o Brasil declarasse guerra à Alemanha, o que só veio a ocorrer em 1943.
Foi a partir de sua excomunhão que ele organizou e registrou a Igreja Católica Apostólica Brasileira – ICAB, na qual aboliu a obrigatoriedade do celibato, a missa passou a ser celebrada na língua pátria e claro, não ficava vinculada ao Vaticano.
À GUISA DE CONCLUSÃO
Podemos dizer que houve um cisma na Igreja Católica Romana no Brasil e um dos protagonistas deste movimento, vincula a sua excomunhão, ato que provocou o cisma, à sua postura contra o Nazismo e o Facismo e ao fato de ser  defensor de que o Brasil declarasse guerra á Alemanha e expulsasse os seus colegas de clero simpatizantes dos nazistas e facistas. Evidentemente que a sua relação com o Vaticano já era conflituosa desde a sua saída da diocese de Botucatu, ato que nunca aceitou e de sua nomeação como bispo de Maura, uma diocese extinta da Muritânia. Mas suas palavras são tão fortes que precisamos analisa-las com bastante atenção para verificar o quanto esta sua postura contribuiu para o seu desligamento da Igreja Romana.


P. S.
Este é um tema instigant e que merece a atenção dos que tem interesse em estudar  as relações Igreja Estado, Segunda Guerra Mundial ou mesmo na história da Igreja no Brasil. Ficamos á disposição dos alunos interessados neste tema.

Quem tiver interesse de ler o manifesto de Dom Carlos na íntegra o mesmo está em vários sites  na internet. Eu mesmo tenho um blog no qual publiquei este manifesto e o endereço é este: www.bispodeamura.blogspot.com