domingo, 4 de novembro de 2012

CONTRA O CELIBATO OBRIGATÓRIO - publicado originalmente no Jornal Rumos

Sabe-se que a obrigatoriedade do celibato não remonta à fundação da Igreja por Jesus. O próprio Pedro tido como primeiro bispo da Igreja Romana, era casado, pois o Evangelho narra a cura de sua sogra por Jesus (Lc 4.38). Ora se Pedro tinha uma sogra, era por ser casado. Jesus não impôs o celibato para os apóstolos, se o fizesse estava contrariando uma tradição no judaísmo onde os sacerdotes eram casados. João Batista era filho de um sacerdote, Zacarias, que era casado com Isabel (Lc.1.5). Por outro lado, São Paulo na Carta a Tito, recomenda que o bispo deve ser casado com uma só mulher, não ser chegado ao vinho e ter bons filhos (Tt.1:6). Portanto não há justificativa bíblica nem para a manutenção da obrigatoriedade do celibato. Na História da Igreja no Brasil registram-se, pelo menos, dois importantes momentos de luta contra o celibato: Um liderado pelo Padre Diogo Antonio Feijó em 1828, quando proferiu, na Câmara dos Deputados, importante discurso condenando o celibato obrigatório e provando que o mesmo nãoera bíblico e sim anti-natural. Feijó, como se sabe tinha mulher e filhos, a Igreja Católica tolerava esta situação, por força do Beneplácito e Padroado, sistema incluso na Constituição de 1824 que permitia a indicação de cargos eclesiásticos pelo Imperador. O outro momento foi na década de 1940 quando o bispo Dom Carlos Duarte Costa, ex-bispo de Botucatu, SP e bispo titular de Maura (Mauritânia) à época, defendeu a extinção do celibato obrigatório na Igreja, dentre outras mudanças. As divergências entre o prelado e o Papa Pio XII culminou com a sua excomunhão. Indiferente ao ato papal, dom Carlos fundou a Igreja Católica Apostólica Brasileira - ICAB, tendo sido eleito bispo do Rio de Janeiro e presidente da mesma. Na Igreja por ele fundada o celibato não é obrigatório. Mais recentemente uma outra autoridade da Igreja no Brasil se manifestou contra o Celibato obrigatório e pela ordenação de mulheres, foi dom Clemente Isnard, bispo emérito de Nova Friburgo- RJ. Em seu livro: Reflexões de um Bispo Sobre as Instituições Eclesiásticas Eclesiásticas Atuais, ele diz textualmente: "A Igreja faz atualmente um esforço tão grande para abrir e manter seminários com resultados por vezes decepcionantes. Por que tantos seminaristas deixam o seminário antes da ordenação? Não poucos por causa do celibato". O celibato deveria ser opcional e não obrigatório. A maior mudança que a Igreja Católica poderia fazer, neste momento, seria abolir a obrigatoriedade do celibato. A convivência entre padres casados e celibatários, seria uma riqueza para a igreja e a revitalizaria. Os padres casados levariam seus filhos suas famílias para a Igreja, haveria uma integração maior entre família e igreja e isso a fortaleceria. O IBGE está fazendo previsão de que a partir da década de 30 deste século, o Brasil deixará de ser um país de maioria católica, passando os evangélicos a serem maioria. Uma das inúmeras explicações do avanço do número de evangélicos é, na minha modesta opinião, o fato do presbítero, o pastor, ser casado e levar consigo toda a sua família para a igreja. A família participa naturalmente, do dia da igreja. O presbítero, sendo casado, conhece os problemas da família e do matrimonio e a partir de sua vivência, orienta os seus fiéis. Não se trata de abolir o celibato, mas de deixá-lo opcional. Aqueles que tiverem vocação para a ordem, sendo casados ou solteiros puderem realizar-se como discípulos de Cristo, como Ele o fez com os seus apóstolos. Oxalá que a Igreja um dia se sensibilize com esta causa. Francisco Artur Pinheiro Alves Professor do curso de História da Universidade Estadual do Ceará e doutor em Educação pela Universid Autónoma de Asunción - Py. Fonte: http://www.padrescasados.org/wp-content/uploads/2012/10/Jornal-Rumos-227.pdf Acessado em 04/11/2012